A alta aprovação do eleitorado goiano ao trabalho do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que soma 86%, segundo a última pesquisa Genial/Quaest, é explicada por uma combinação de políticas e acenos ao bolsonarismo nas áreas de segurança pública e educação, em um estado que tradicionalmente vota em políticos do campo da direita. De um lado, Caiado adota um discurso “linha-dura”, com foco na redução da criminalidade, e conseguiu reduzir indicadores como o número de homicídios, desde que assumiu o comando do estado. Do outro, aposta no modelo das escolas cívico-militares.
A pesquisa mostrou que 69% dos eleitores de Goiás avaliam como positivo o desempenho de Caiado na segurança pública, enquanto 67% dizem o mesmo sobre a educação. São os maiores índices entre as áreas da gestão avaliadas. A título de comparação, o índice cai para 43%, quando os entrevistados são questionados sobre a situação do transporte público no estado, e a 53%, quando a pauta é saúde.
A percepção sobre o desempenho do Caiado na segurança destoa dos demais governadores avaliados: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná. No caso dos demais chefes do Executivo também alinhados a Jair Bolsonaro (PL), os percentuais variam entre 33% e 48%.
Foco da comunicação
O resultado passa pelo peso do tema da segurança na estratégia de comunicação de Caiado. À frente do governo desde 2019, o político do União adotou slogans como “em Goiás, bandido grã-fino não se cria”. Durante seu primeiro mandato, um banner com a frase “Em Goiás, ou o bandido muda de profissão, ou muda de estado” chegou a cobrir durante meses a fachada do Palácio das Esmeraldas, sede do governo.
Nos pronunciamentos do governador, dados de segurança pública são com frequência destacados. Estatísticas oficiais do estado apontam que os homicídios dolosos, por exemplo, caíram pela metade entre 2018 e 2023 — de 2.117 para 1.046. A comparação é com o último ano da gestão de Marconi Perillo (PSDB), hoje opositor de Caiado.
O desempenho na área deve se tornar uma das principais bandeiras do governador, caso consiga se cacifar para a eleição à Presidência em 2026. Embora esteja filiado ao União Brasil, partido da base do governo Lula, e dos desentendimentos com Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19, Caiado é um dos nomes do campo da direita que disputam o espólio do ex-presidente, que está inelegível.
Ao mesmo tempo, o governador enfrenta críticas de opositores e defensores da agenda de direitos humanos pela alta letalidade policial sob sua gestão. Dados do Observatório de Segurança Pública apontam a polícia de Goiás mata duas vezes mais que a média nacional. Em 2022, 7,6 mortes em decorrência de intervenções policiais foram registradas a cada 100 mil habitantes. É o terceiro maior índice do Brasil, atrás apenas dos alcançados pelos estados do Rio e da Bahia.
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— O que sustenta Caiado é a grande farsa da sensação de segurança originada pela matança generalizada em Goiás, além de truculenta ação contra os adversários políticos — critica Marconi Perillo.
Opositores apontam ainda que não há valorização de PMs. Os agentes têm sido promovidos exclusivamente por atos de bravura, mecanismo que, na avaliação de especialistas em segurança, abre espaço para a “institucionalização” de assassinatos cometidos em serviço.
Primo investigado
Outro foco de desgaste relacionado ao tema da segurança, explorado pela oposição, envolve um familiar do governador. Primo de Caiado, Jorge Luiz Ramos Caiado tornou-se réu no fim do mês passado por homicídio. A vítima é o empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante, ex-aliado do governador. Ele foi assassinado a tiros em 2021, em uma emboscada no interior do estado.
A investigação sobre a morte de Escobar se arrastava desde 2021 e motiva uma série de manifestações da oposição ao governador na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego).
O questionamento de alguns deputados passou a ser mais frequente depois da primeira denúncia do Ministério Público, feita no ano passado, contra três policiais militares e um homem apontado como o mandante: Carlos César Savastano Toledo, conhecido como Cacai, ex-presidente do DEM (atual União Brasil) em Anápolis, terceira maior cidade do estado.
Após a vitória de Caiado, em 2018, Cacai chegou a integrar o governo em um cargo de destaque como diretor administrativo da Companhia de Desenvolvimento de Goiás (Codego). Líder do PT na Alego, o deputado Mauro Rubem vinha cobrando respostas dos órgãos de investigação e agora, com a denúncia contra Jorge Caiado, pede que o processo avance para esclarecer se ele e Cacai foram, de fato, os únicos mandantes.
— Existem publicações do Escobar criticando o governo — afirmou o parlamentar, que reclama da demora das investigações.
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O governo de Goiás afirmou em nota que não pode emitir opinião sobre processo de investigação policial, e frisou que foi o trabalho da Polícia Civil que resultou “nas prisões dos agentes de segurança e no prosseguimento da denúncia. Já a defesa de Cacai disse que o parecer do MP contém “ilações absurdas” e que se trata de uma “verdadeira preguiça de investigar”.
Educação militar
Na área da educação, as escolas cívico-militares são a principais vitrine de Caiado. O modelo é defendido pelo eleitorado conservador e entrou na mira do governo Lula, que encerrou no ano passado o programa criado por Bolsonaro para financiar unidades.
As escolas goianas correm risco, no entanto, de se transformar em foco de crise para o governador. Segundo informações do jornal “O Popular”, a Secretaria de Segurança Pública investiga suposto tráfico de influência na escolha de empresas para a realização de eventos nas escolas. Os contratos teriam sido celebrados em 35 unidades, mais da metade do total. Caiado também tem recebido críticas por sua gestão na educação pela dispensa de professores de apoio. A categoria prestava auxílio para crianças com deficiência, como autismo ou síndrome de down, na rede estadual.